Xavier Placer

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FECHO os meus poemas
na garrafa, arrojo-a às ondas
Onde o mar é sempre -
contra corais se quebre ou dê
a uma mesa posta
Mas vale a pena ter vindo uma vez, fitar o Sol
Por isso eu o busco, a esse amigo difícil, por isso eu gosto de me fazer ao mar.
NÁUFRAGO de ti, vogas nas águas do sono...
Um galo ( que não ouves ) saúda o nascer do dia
NÃO QUERO TROPEÇAR em raízes. Nem olhar para trás.
NÃO desesperes, Erika
da sorte
Um a um os teus deuses
mudaram-se pra América do
Norte?
Toda-poderosa –
dança! voa! ri da morte
...isto tudo que passa por você, que você despreza ou ama, tudo isto olha! é a vida: essa coisa desbordante, incoerente, maravilhosa, a vida!
Vem na asa do vento a música dos seixos...
ORA, NÃO PERCAS TEMPO A DESAMAR
A casa nova e branca é um lar:
janelas e portas abertas,
o cheiro bom a lavanda...
Te compreendo, pequeno seixo redondo, é preciso esperar, é preciso abençoar a dor que desgasta arestas e asperezas - e depois, depois aspirar à perfeição ainda!
A ÁRVORE MORRE DE PÉ,
O ANIMAL RECOLHE-SE,
O HOMEM ESPETACULIZA A MORTE
DEIXA QUE TEU PÉ DESCALÇO SINTA A TERRA NUA
TRABALHO CONSTRÓI, O ÓCIO CRIA
Do fundo da memória, poço estreito
Desta névoa, delida mais que um rastro
Resta: "Quem sabe, longe do meu peito
Talvez meu coração já foi um astro..."
HÁ COISAS TRISTES, POUCAS COMO UM NINHO DESERTADO
Mas a vida, ah! a vida não é o-feito-pelo-homem.
Está para além. E é reverência.
PARECIA uma verbena
e era nascida nas dunas.
PERMITE QUE O MITO, ESSA FRANQUIA, TE NUTRA OS OSSOS

Escritor, Poeta, Ensaísta e Tradutor
Nov/1986